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12.05.2020 | Publicador por: Administrador | Mercado Cooperativismo e empreendedorismo da juventude rural: o caso dos jovens da COOMAFITT

Cooperativismo e empreendedorismo da juventude rural: o caso dos jovens da COOMAFITTAssociados Coomafitt - Imagem Arquivos Coomaiftt - Ubiraja Machado/Equipe 4 Cabeças

por Jaqueline Mallmann Haas e Solane Trisch König

O atual cenário, imposto pela pandemia da Covid-19 no planeta, nos coloca diante de uma situação paradoxal. De um lado a relevância e a importância do isolamento social para a preservação da vida humana, por outro, um debate sobre os efeitos econômicos do novo contexto. Desse modo, questiona-se aqui a possibilidade de aliar empreendedorismo, princípios do cooperativismo com responsabilidade social, a partir da oferta de alimentos saudáveis e de qualidade via canais curtos de comercialização, acrescido de valorização da categoria da agricultura familiar.

Nesse sentido, o atual contexto social e econômico nos remete a uma maior participação da ruralidade familiar no enfrentamento da pandemia, tanto para garantir o alimento saudável na mesa da população brasileira, como promotora de um novo e diferenciado desenvolvimento econômico. Todavia, as transformações até então experimentadas ainda impõe novos desafios aos atores sociais e políticos que atuam no meio rural, junto as cooperativas de agricultores familiares. De modo que, mesmo sendo um período difícil, esses atores, em especial a juventude rural está desenvolvendo iniciativas empreendedoras, com a introdução de novos métodos de comercialização dos seus produtos, destacando-se desta maneira como sujeitos inovadores e, por seguinte, como agentes fundamentais nestes novos tempos.

De acordo com vertentes teóricas, a função inicial do empreendedor dentro do pensamento de desenvolvimento, tem a necessidade de introduzir a ideia de “novas combinações”, destacando que, o processo de inovação, suas aplicações e consequências sobre os processos produtivos, são fundamentais para o desenvolvimento econômico de uma sociedade.


Coomafitt integra a Rede de Cooperativas da Agricultura Familiar e da Economia Solidária. (Foto: Ubirajara Machado)
Dessa forma, esse movimento relacionado ao empreendedorismo pode ser observado em muitas iniciativas no meio rural. No caso aqui apresentado, um grupo de jovens vinculados a Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas – COOMAFITT, diante do cenário atual, conseguiu introduzir na prática as estratégias de comercialização dos produtos e dos serviços, oferecidos pela cooperativa, diretamente aos consumidores, por meio de ferramentais apropriados, permitindo assim com que os produtos cheguem diretamente a residência do consumidor final.

Fundada em 5 de setembro de 2006 por agricultoras e agricultores familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas, no litoral norte do Rio Grande do Sul, a COOMAFITT surgiu para promover o desenvolvimento socioeconômico das famílias por meio do comércio justo de alimentos de qualidade com respeito as pessoas e ao meio ambiente. Com isso, a logística e a qualidade da produção fizeram desta uma referência estadual. Composta por 223 famílias de agricultores que comercializaram ao longo dos últimos anos cerca de 6,4 mil toneladas de alimentos anuais, distribuídos em torno de 88 variedades de alimentos, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Acrescido que em seu histórico, a COOMAFITT sempre atuou para integrar os jovens nos espaços diretivos e de tomadas de decisões, assim como em todos os seus processos.

Destaca-se ainda que a COOMAFITT integra a Rede de Cooperativas da Agricultura Familiar e da Economia Solidária – REDECOOP, que é composta por 43 cooperativas e representa 18.438 associados distribuídos em 29 municípios gaúchos. A Rede trabalha de forma autogestionada e solidária, por meio de parcerias, integrando alimentos sazonais de cada território, viabilizando a logística, diminuindo custos e potencializando a qualidade dos serviços prestados e alimentos produzidos por cada cooperativa.

Diante da pandemia, impulsionada pelo grupo de jovens, a COOMAFITT, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Campus Litoral Norte, a EMATER/ASCAR RS, o Curso de Especialização em Cooperativismo da UFRGS, a REDECOOP e a ADUFRGS Sindical, assume o protagonismo de uma nova proposta de oferta de alimentos de qualidade, que passaram a ser entregues diretamente nas residências dos consumidores, buscando aliar os princípios do cooperativismo, empreendedorismo e responsabilidade social.

Visando atender a forte demanda apresentada por parte dos moradores do Litoral Norte do RS a juventude da cooperativa lança o projeto Fitt Delivery. Por meio do projeto produtos agroecológicos, orgânicos e/ou da agricultura familiar passam a chegar diretamente aos consumidores. Cestas contendo frutas, verduras, hortaliças, além de outros produtos, passaram a ser entregues uma vez na semana na casa dos consumidores. Inicialmente as encomendas eram realizadas via um aplicativo de mensagens, onde o consumidor contatava a cooperativa, manifestava o interesse por qual cesta desejava, fornecia seus respectivos dados para a entrega, escolhia forma de pagamento e tirava todas as dúvidas diretamente com os jovens.

Na segunda semana de ação, frente a grande demanda, foi necessário aperfeiçoar as ferramentas virtuais. Desde então, os pedidos passaram a ser realizados via o aplicativo de mensagens, mas redirecionando o consumidor para um formulário, facilitando assim o trabalho de logística de preparação das cestas por parte da Cooperativa. Nesta segunda semana de ações também, diferentes cestas de produtos passaram a ser ofertadas, atendendo solicitação das especificidades das famílias consumidoras. No mesmo período ainda, diante da alta demanda as entidades parceiras optaram por aumentar a área de abrangência de ações, com novos municípios sendo atendidos. Hoje um total de nove municípios são atendidos, o que vem ocorrendo de forma sistemática. Percebe-se ainda que todas as ações têm sido realizadas com cuidado para evitar uma precarização do trabalho, como tem ocorrido de forma acentuada no novo cenário dos deliverys, buscando sempre a valorização do ser humano, a valorização das especificidades, características regionais.

Essa forma de atuação, de protagonismo da juventude rural, em um cenário atípico, tem apontado para a possibilidade de permanência dessa importante categoria no campo, garantindo conjuntamente o futuro da agricultura familiar, assim como a produção e oferta de alimentos saudáveis no Litoral Norte do RS. Destacando que paralelamente existe o protagonismo dos jovens da COOMAFITT no encaminhamento dos processos da rastreabilidade da produção, que por sua vez é inovação tecnológica, sendo esta, mais uma das características importantes da organização para um futuro próximo e diferenciado, rumo a sistemas alimentares saudáveis e resilientes.

Jaqueline Mallmann Haas – Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) /Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas Regionais e Desenvolvimento (PGDREDES) e Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agricultura, Alimentação e Desenvolvimento (GEPAD). E-mail: jaquelinehaas@ufrgs.br

Solane Trisch König – Mestranda em Dinâmicas Regionais e Desenvolvimento (PGDREDES), Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: sol05adm@hotmail.com
Palavras-chave: Agricultura Familiar, alimentação, Coomafitt, Cooperativismo, economia solidária, pandemia, RedeCoop